

A Journey of imagination - IBERIAN SUITE
KENNEDY CENTER OF PERFORMING ARTS - WASHINGTON
Curadoria | Alicia Adams
"Se Eu Pudesse Trincar a Terra Toda" Manuela Pimentel
"Prazeres 28" Nuno Vasa
"Freedom" Alexandre Farto Vhils
"A Jangada de Pedra" Siza Vieira e Souto Moura
Storytaylors
Pedro Zaz | VJ

Se Eu Pudesse Trincar a Terra Toda; 210 x 600cm |2015





As paredes com ouvidos de Manuela Pimentel estão em Washington
Lusa 05 Mar, 2015 | Alexandre Soares
A artista plástica portuguesa Manuela Pimentel tem patente, até dia 24 de março, no Kennedy Center, em Washington, uma instalação sobre azulejos portugueses, que reflete sobre a vida das ruas, onde "as paredes têm ouvidos".
A artista desenvolve o seu trabalho a partir da recolha de cartazes de rua, colados sobre fachadas de prédios, que depois transforma e recicla em forma de azulejo.
"Chamo-lhe a revolta dos azulejos", disse à agência Lusa.
A sua peça está construída como uma estação, completando um elétrico de cortiça do artista Nuno Vasa, e tem o titulo "Se eu pudesse trincar a terra inteira", verso de um poema de Alberto Caeiro (o "Guardador de Rebanhos" de Pessoa).
"Depois de recolher os cartazes, chego ao atelier com uns grandes blocos, e só quando os começo a separar é que descubro os que estão por baixo. É nesse processo que começo a perceber aquilo que quero manter ou não", explicou.
A artista portuense, de 35 anos, fotografa também mensagens que cidadãos anónimos espalham pelas cidades, e incorpora-as nas peças.
Na instalação do Kennedy Center, por exemplo, surge a frase "Sabias que as paredes têm ouvidos?"
"Confesso que essa fui eu que escrevi numa parede", disse à agência Lusa. "É o titulo de uma exposição minha."
Depois de fazer uma montagem com todos os cartazes, começa a pintar sobre ela, em acrílico e por vezes usando `stencil`, deixando apenas partes dos cartazes visíveis.
No final, usa uma massa para similar as juntas dos azulejos e uma técnica de `trompe l`oeil`, que cria uma ilusão ótica de três dimensões.
Manuela recria, nas suas peças, azulejos dos séculos XVII e XVIII, que fotografa em todo o país, sobretudo em palácios de Lisboa e Porto.
Para esta instalação, usou um azulejo que encontrou no palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa, chamado "Casamento da galinha", em que uma galinha segue num coche, conduzido por um macaco.
Este azulejo faz parte de umas representações contemporâneas da guerra da restauração contra Espanha, entre 1640 e 1668, e são formas de parodiar as figuras do poder político de que o país se tinha libertado.
"Por isso achei tão interessante trazer esta parte da história para um evento que celebra a cultura ibérica como um todo", explicou a artista.
Num dos lados da peça, existem umas caixas de madeira que emitem sons gravados pela autora.
"Quando passas na rua, ela está sempre em mudança e em mutação. É como se estivesse a dizer-te coisas. É um diálogo entre a pessoa e o espaço, que está sempre a acontecer, e é isso que tento explorar no meu trabalho", explica.

A Iberian Suite junta vários artistas portugueses no Kennedy Center, em Washington.
Um elétrico de cortiça, dois monumentais vestidos, uma instalação áudio com azulejos, um trabalho de vídeo mapping e uma obra sobre liberdade, todos de criadores portugueses, dominam desde ontem um dos mais importantes centros culturais dos Estados Unidos.
Os trabalhos fazem parte de Iberian Suite: Arts Remix Across Continents, um evento de divulgação da cultura de Portugal e de Espanha, que conta com a participação de artistas da lusofonia e da América Latina e que acontece até 24 de março, no Kennedy Center, em Washington.
"Convidámos uma série de artistas, que fazem parte de uma nova geração, para reinterpretar temas tradicionais portugueses. O que queremos é mostrar como o Portugal contemporâneo reinventa aqueles que são os valores tradicionais do nosso país", disse a diretora do Arte Institute, Ana Ventura Miranda. O Arte Institute convidou os artistas Nuno Vaza e Manuela Pimentel, a dupla de estilistas Storytailors e o VJ Pedro Zaz a fazer companhia ao artista Alexandre Farto (Vhils), que foi convidado pela Secretaria de Estado da Cultura.
A curadora de "Iberian Suite", a mostra de criação contemporânea ibérica que acontece em março, em Washington, garante que o festival "vai mostrar uma face dos países ibéricos além da crise".
"Começámos a falar na possibilidade deste festival em 2011, quando todas as notícias sobre Portugal e Espanha eram sobre a crise e as dificuldades económicas", disse à agência Lusa a curadora do evento, Alicia Adams. "Nos últimos anos, construímos um programa que vai mostrar uma face dos países ibéricos além da crise".
Durante três semanas, de 03 a 24 de março, o Kennedy Center acolherá uma mostra cultural intitulada "Iberian Suite: Arts Remix Across Continents", um evento de divulgação da cultura de Portugal e de Espanha, que contará com a participação de artistas da lusofonia e da América Latina.
Alicia Adams diz que, em finais de 2011, "a resposta dos dirigentes máximos do Kennedy Center e dos seus patrocinadores [à ideia da mostra] foi, de imediato, positiva, porque viram uma possibilidade de mostrar a riqueza cultural destes países num momento particularmente difícil."
Nos últimos dois anos, a responsável visitou Lisboa e Porto, falou com agentes culturais, diplomatas, políticos e chegou a um extenso programa que levará, até ao Kennedy Center, pessoas como o fadista Camané, o artista urbano Alexandre Farto - Vhils, a companhia de teatro Mundo Perfeito e o escritor Gonçalo M. Tavares.
"Escolhemos sempre países ou regiões que não têm uma presença significativa na cena cultural da cidade e o nosso único critério é a alta qualidade dos artistas, que têm de ter gabarito internacional, mas podem pertencer a uma nova geração, que gostamos de mostrar e promover", explicou Adams.
O Kennedy Center espera que o festival mobilize entre 200 mil e 400 mil visitantes e espectadores, chegando a mais de um milhão de pessoas, através de plataformas "online" e ações de formação junto das escolas.
"Vamos ter mais de 600 artistas, vindos de 23 países e cinco continentes", disse à Lusa a diretora da programação internacional do Kennedy Center, a brasileira Gilda Almeida.
Almeida garante que "existe, definitivamente, uma conversa sobre o festival nas redes sociais e uma grande expectativa por toda a cidade."
"Esperamos esgotar todos os grandes eventos", disse.
Alicia Adams diz que tem notado, sobretudo, muito interesse das comunidades imigrantes.
"As pessoas estão muito orgulhosas por verem a sua cultura representada em Washington, com um evento de tão alta qualidade, e querem trazer os filhos e os amigos para lhes mostrar a música, a arte, a dança, a literatura dos países onde nasceram", garante a curadora.
Da programação teatral faz parte, por exemplo, a interpretação das peças "Ode Marítima", de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, por Diogo Infante e João Gil, "Contos em Viagem - Cabo Verde", pelo Teatro Meridional, "Três dedos abaixo do joelho" e "By Heart", da companhia Mundo Perfeito, e "What I heard about the World", pela Mala Voadora, com a companhia inglesa Third Angel.
Os arquitetos Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira são os autores de uma instalação chamada "Jangada de Pedra", que estará patente em frente ao centro, e outra instalação, um elétrico de cortiça em tamanho real, criado pelo artista plástico e designer Nuno Vasa, que transporta a "Mensagem", de Fernando Pessoa, estará em exposição numa das entradas do centro.
Uma terceira instalação em pedra, em que se exibem manequins do mundo inteiro, inspirados em temas portugueses e espanhóis, terá a presença dos designers portugueses Storytailors.
Estão previstos ainda concertos de Carminho e Camané, acompanhados pela National Symphony Orchestra, assim como atuações de Rodrigo Leão, Sofia Ribeiro, Luísa Sobral, The Gift e António Zambujo.
Na cerimónia de abertura, a 03 de março, vão participar a fadista Carminho, a companhia brasileira de dança Grupo Corpo, o saxofonista moçambicano Moreira Conguiça, a cantora mexicana Eugenia León, Arakaendar Choir and Orchestra (Bolívia/Reino Unido) e os bailarinos Ángel and Carmen Corella, de Espanha.
No jantar inaugural será ainda apresentado o trabalho do artista de "novos media" Pedro Zaz que, a convite do Arte Institute, desenvolveu uma apresentação vídeo.
O artista Alexandre Farto, conhecido como Vhils, fará um retrato de Fernando Pessoa, a partir de páginas de livros do poeta, e Manuela Pimentel irá apresentar um projeto visual a partir do azulejo português.
Alexandre Soares | Lusa